“…Poesia é coisa que vem e passa. Passa como um passarinho muito raro. Passa depressa. A gente vai querer segurar, ele voa e vai-se embora. Hoje, quando eu estava pintando o braço de São Francisco, ali perto da cabeça dele, eu senti um vlup – um raspão de poesia”. O poema de Cândido Portinari retrata com maestria a “poesia para os olhos” que é avistar a bela Igreja de São Francisco de Assis, localizada no Conjunto Moderno da Pampulha. Para a alegria de muitos, o monumento histórico, dono de uma riqueza interior inestimável, reabre suas portas no dia 4 de outubro, às 10h30, no dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais e da natureza e patrono da igreja. A decisão foi tomada durante reunião do Comitê Técnico Logístico-Sanitário da arquidiocese.
Primeira no Brasil construída nos padrões da arquitetura moderna, a Igrejinha da Pampulha, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, estava fechada desde o início da pandemia. Agora, ela reabre as portas preparada e adaptada para voltar a receber fiéis e turistas seguindo o protocolo estabelecido pelas autoridades públicas em saúde e pela Arquidiocese de BH, para garantir o distanciamento social e outras medidas necessárias à prevenção da COVID-19. O templo, originalmente capaz de receber 85 pessoas, acolherá grupos menores – de até 18 visitantes, para as missas, e até três pessoas, para visitas em outros momentos. Nas missas, haverá uma intercalação entre bancos ocupados e vazios. E cada banco acolherá apenas duas pessoas.
Durante as missas e celebrações será obrigatório o uso máscaras, aferição da temperatura corporal na chegada dos visitantes, que terão à disposição tapetes sanitizantes e álcool em gel. Além dessas medidas de segurança, o templo será higienizado antes e depois de receber grupos. Segundo a arquidiocese, as missas na Igreja São Francisco de Assis são celebradas sempre aos domingos, às 10h30. No Dia de São Francisco, não haverá a tradicional bênção dos animais, que ocorre na entrada do templo, para evitar aglomeração na orla da Lagoa da Pampulha. Exceto na segunda-feira, a Igrejinha poderá ser visitada todos os dias. O horário de visitas é das 8h às 17h. O agendamento para participar das missas deve ser feito na secretaria paroquial da Paróquia Santo Antônio, da Pampulha, pelo telefone (31) 3427-2866.
Turismo
As visitas turísticas, ao longo da semana, serão por ordem de chegada. O valor da taxa de visitação é R$ 5 – aos que têm mais de 65 anos, estudantes, pessoas com deficiência ou jovens de baixa renda, com idade entre 15 e 29 anos, é assegurada a meia-entrada.
Revitalização
A igrejinha reabre as portas um ano após uma obra de revitalização, que recebeu investimentos de R$ 1,07 milhão do Governo Federal por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A reforma incluiu revitalização de piso, revestimentos, pinturas, impermeabilização e recuperação de elementos danificados. Houve ainda a remoção do forro da nave, instalação de telhas e calhas, revisão da instalação elétrica e reforma dos sanitários. A obra foi executada pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e pelo Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais da Universidade Federal de Minas Gerais.
Joia modernista feita por muitas mãos
Construída entre 1942 e 1943, o imóvel só foi entregue ao culto religioso mais de 15 anos depois, no final da década de 1950. Isso ocorreu devido à recusa de Dom Cabral, primeiro arcebispo de Belo Horizonte, em consagrar a Igreja enquanto casa de Deus, em razão de suas formas modernas, que contrariavam os padrões comumente utilizados em templos religiosos da época. A convite do arquiteto modernista, importantes artistas colaboraram com a construção do templo: Cândido Portinari, nos painéis e pinturas; Alfredo Ceschiatti, nas esculturas; Paulo Werneck, nos painéis de arte abstrata em pastilhas e Roberto Burle Marx, no paisagismo do entorno. O templo é reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro desde 1947. Ele está inserido no Conjunto Moderno da Pampulha, reconhecido como Patrimônio Mundial desde 2016.