A trajetória do artista plástico Athos Bulcão está presente de forma singular em toda Belo Horizonte e sua carreira se mistura ao legado artístico do município. Considerado o mestre da arte da azulejaria, seu trabalho é consagrado no mundo inteiro e tem como principal característica estar representado em diversos espaços públicos espalhados pela cidade, fora do circuito de museus e galerias. Grande parte das pessoas entra acidentalmente em contato com sua obra, no percurso que leva ao trabalho, à escola ou simplesmente quando passeia pela capital mineira, que possui diversos pontos impregnados pelos azulejos singulares, que “realçam” a mesmice da cidade. E Beagá não está sozinha e divide a honra com Brasília, Rio de Janeiro, Recife, Milão, Buenos Aires, Cabo Verde, Salvador, Nova Délhi, São Paulo, dentre outras.
A Pampulha é uma das regiões privilegiadas e tem estampado em um dos seus mais famosos cartões-postais e colaboração entre o azulejista e Cândido Portinari – o painel sobre a vida de São Francisco de Assis, na igreja que leva o mesmo nome do santo. A ligação de Bulcão com a capital de Minas Gerais passa pelas mãos de Niemeyer, com quem trabalhou em Brasília. Os dois se conheceram na casa do paisagista Burle Marx, criador dos jardins da Igreja São Francisco de Assis, do Museu de Arte da Pampulha (MAP) e outras atrações no entorno da Lagoa da Pampulha. Jovem, Athos estava fazendo um desenho, o qual agradou Niemeyer. Na sequência, o arquiteto disse que ele poderia fazer azulejos para o teatro municipal de Belo Horizonte, que nunca saíram do papel. Como azulejista sua obra sempre esteve integrada à arquitetura, seja com Oscar Niemeyer e com João Filgueiras Lima.
Devido a esse legado, Athos Bulcão, falecido em 2008, terá sua obra homenageada no condomínio fechado de casas “Lares da Mata”, da Marítima Engenharia. O empreendimento terá em seu projeto os trabalhos e influência na arquitetura brasileira do artista junto a Niemeyer. A concepção do condomínio é inspirada na arquitetura da Pampulha e o trabalho de azulejaria será composto pela “Série Pampulhana”, que será utilizada pela primeira vez no “Lares da Mata”, enriquecendo o projeto arquitetônico do condomínio. “A azulejaria é uma riqueza histórica absoluta e deve ser integrada à arquitetura de uma forma harmônica, porque tem a capacidade de expressão, marcando espaço e definindo um lugar”, destaca Alexandre Mancini, artista plástico e azulejista responsável pela Série, uma execução dele, chancelada pela Fundação Athos Bulcão.
Projeto querido
Dirceu Farnetti, engenheiro civil e proprietário da Marítima Engenharia, acrescenta que o projeto paisagístico do “Lares da Mata” irá valorizar ainda mais a natureza, seguindo o paisagismo de Burle Max. “Para a Marítima Engenharia é uma honra que um projeto tão querido como o “Lares da Mata” tenha em seu DNA a essência do trabalho de Bulcão”, ressalta. O engenheiro acrescenta que as obras de Bulcão potencializam a representação arquitetônica, trabalhando detalhes e peculiaridades do espaço projetado, as relações entre a paisagem e a natureza, como a incidência da luminosidade solar. “Os azulejos e a estética de Bulcão trazem um grafismo e modulação criados com base nas formas geométricas. Quando observamos sua obra apresentada pelo mundo afora, percebe-se o equilíbrio entre formas, arte e arquitetura”, afirma.
Entre as obras mais famosas de Athos Bulcão estão murais, painéis e relevos para
os edifícios do Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, Teatro Nacional
Claudio Santoro, Palácio do Itamaraty, Palácio do Jaburu, Memorial Juscelino
Kubitschek, Capela do Palácio da Alvorada, Hospital Sarah Kubistchek e outros. Em
Belo Horizonte, estão os icônicos Edifício Niemeyer, na Praça da Liberdade,
referência moderna com a fachada revestida pelos ladrilhos hidráulicos assinados por
Bulcão; Tribunal de Contas da União (TCU) em Minas; Rede Sarah de Hospitais de
Reabilitação, no Gameleira; auditório da Secretaria Regional Oeste, no Salgado
Filho, dentre outras.
Saiba mais sobre Athos Bulcão
Athos Bulcão nasceu no Rio de Janeiro, em 2 de julho de 1918, e passou a infância em Teresópolis (RJ). Perdeu a mãe, Maria Antonieta da Fonseca Bulcão, de enfisema pulmonar antes dos cinco anos, sendo criado com o pai, Fortunato Bulcão, entusiasta da siderurgia, amigo e sócio de Monteiro Lobato, com o irmão Jayme, 11 anos mais velho, e com as irmãs adolescentes Mariazinha e Dalila, que substituíram a mãe.
Enquanto crescia, o menino passava muito tempo em casa e, por ser muito tímido, misturava fantasia e realidade, conforme texto da Fundação Athos Bulcão. Na família, havia um interesse pela arte e suas irmãs o levavam frequentemente ao teatro, a espetáculos das companhias estrangeiras, à ópera e à Comédia Francesa. Athos, aos quatro anos, ouvia Caruso no gramofone, e ensaiava desenhos sem, no entanto, chamar a atenção da família. Chegou às artes graças a uma série de acidentais e providenciais lances do acaso.
Na juventude, foi amigo de alguns dos mais importantes artistas brasileiros modernos, os maiores responsáveis por sua formação: Carlos Scliar, Jorge Amado, Pancetti, Enrico Bianco, que o apresentou a Burle Marx, Milton Dacosta, Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Ceschiatti, Manuel Bandeira e outros.
Aos 21 anos, os amigos o apresentaram a Portinari, com quem trabalhou como assistente no mural de São Francisco de Assis, na Pampulha, em BH, e aprendeu muitas lições importantes sobre desenhos e cores. Faleceu após uma parada cardiorrespiratória em dia 31 de julho de 2008, aos 90 anos.
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